segunda-feira, 26 de maio de 2008

ACEITAÇÃO


O tempo, o amadurecimento, a força de vontade e o reforço da espiritualidade nos faz aceitar o que achávamos impossível.

Desde pequena tenho minhas complicações de saúde.

Entre meus amigos um dos meus apelidos é pata, porque quando pequena usava botinhas ortopédicas e sempre tive nádegas avantajadas e a burra mostrou a foto para eles (sou inocente, vez por outra). Conclusão: correr nem pensar. Era tal de amarrar cadarço, tropeçar nas próprias pernas, cair e ralar o joelho sem fim.

O Mertiolato era o meu melhor amigo.

O que eu acho lindo em crianças e adolescentes é que ainda não internalizaram a palavra limitação.

Ainda nessa época tinha bronquite, e era tal de mãe mandar calçar os chinelos, não ter bicho de estimação em casa, sair agasalhada, não tomar gelado. Por eles eu seria a “menina da bolha”.

Libertei-me desse problema, saindo com a bombinha a tiracolo.

Aí quando tudo parecia resolvido, fiquei “mocinha”. Veio a dorzinha, a coliquinha, a cólica, a dor insuportável, o enrijecimento e infamação de músculos e gânglios, os enjôos, os desmaios, as quedas de pressão.

Vamos lá novamente aos médicos, até hoje vinte e dois, fiz questão de somar.

Quando adolescente a medicina não era tão avançada, na ultra-sonografia apareciam cistos.

E sempre a mesma história: “Você toma essa pílula que vai passar”. Além de não passar vinham os enjôos, retenção hídrica, dor de cabeça e outros sintomas.

Voltava reclamando dos sintomas e davam um remédio para a dor de cabeça, outro para a retenção hídrica e outro para o enjôo.

O remédio para o enjôo dava sono e eu estudava, minhas notas baixavam e eu procurava outro médico numa “via-crúcis” infindável.

Os cistinhos, indetectáveis antigamente eram miomas, com muita pesquisa, descobri que havia a videolaparoscopia.

Eu tinha três desses bichinhos e, por circunstâncias que não vem ao caso, eles aumentaram.

Dois foram retirados e sobrou um coladinho à veia aorta abdominal.

Inextraível.

Hoje, todos os meses são dez dias de sufoco.


Todos esses sintomas, e, o penúltimo médico visitado disse que, se eu quisesse “tentar” fazê-lo sumir tinha que tomar hormônios, que me fariam ficar com sintomas piores.

Obrigada, não.

O último foi melhor ainda, sugeriu uma histerectomia, topei, marquei, mas quando a assistente me ligou para confirmar, desisti.

Mais uma vez, obrigada, não.

Nessas idas e vindas de tentarem que eu trocasse um problema por outro resolvi, depois de muita espiritualização simplesmente aceitar.

Creio no avanço cada vez mais rápido da medicina e que está por pouco uma solução.

Nessa história toda ainda tinha o trabalho, era penoso ir trabalhar morrendo de dor, pressão baixa e “dar show” desmaiando em qualquer lugar.

Enchia-me de analgésicos, antiinflamatórios, sal na bolsa e ia rezando para não desmaiar e bater a cabeça na guia e morrer. Se bem que se isso acontecesse era porque havia chego minha hora e pronto.

A partir do momento que aceitamos as nossas limitações as coisas fluem a nosso favor.

Como trabalho com advocacia, posso fazer meus processos na cama, enviar, pedir para um colega fazer uma audiência, quando necessário, como hoje.

E eu que me achava uma incapaz por esse probleminha, depois que o aceitei, ele mudou de forma.

Tenho os mesmos sintomas, mas graças ao meu empenho desses últimos anos, conquistei a possibilidade de trabalhar na cama nesses dias.

Se for imprescindível minha presença real e não virtual, aí sim tomo injeções, sal na bolsa e outras providências (Banco até o Dr. House, se necessário for).

Hoje foi engraçado, me pediram um adendo num contrato e, de mau humor, disseram que era urgente.

Simplesmente orquestrarei tudo daqui e amanhã tal documento estará nas mãos do solicitante.

Quando aceitamos nossas limitações tudo fica mais fácil e temos a mente mais aberta para arrumar soluções.

Nem por isso duvido da minha cura, estou pronta para ela a partir do momento que descobri as causas psíquicas que me levaram a ter esse problema.

Foi a simples falta de aceitação de um fato que para mim, até o ano passado parecia tão importância.

O psíquico afeta o físico e precisamos estar atentos, por exemplo, a não aceitação de si mesmo causa problemas de pele simplesmente porque o paciente não se aceita e rejeitando-se, a pele fica lesionada. (Maior exemplo: Michael Jackson e seu vitiligo).

A mágoa gera problemas pulmonares.

Mágoas e problemas acumulados sem solução, término, esclarecimento, geram câncer.

Nosso corpo tem dupla função: avisa-nos quando algo está errado em nossa alma e se regenera quando encaramos a doença e a causa psíquica dela.

A medicina, a fitoterapia e outras milhares de opções podem nos ajudar, mas primeiramente devemos encarar o problema, aceitar que ele existe, conviver com ele buscando a cura e vivendo normalmente a cada melhora, nem que durem quinze minutos, um dia, dez dias ou vinte.

Neide, Damara e Cida que o digam, vocês são meus exemplos de superação mais próximos: Cura total de câncer em tempo recorde e a mais tinhosa delas sem quimioterapia.

Quem não as conhece pode se basear em Cláudio Drewer José Siqueira, Procurador da República. Pois algumas vezes a cura não vem.

Enquanto a minha não vem, Deus, em sua infinita bondade, me proporcionou um trabalho que é adequado a esse probleminha, uma família e amigos que o entendem, companheiros de trabalho que também compreendem, um companheiro de vida que leva isso tudo numa boa e estar geograficamente bem localizada.

A chave é a aceitação.

Aceitação cura ou ameniza.

Revolta piora.



Deixa-me voltar para os meus processos... e para meus três litros de chá de alecrim.

(Gy Camargo)




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