quarta-feira, 28 de maio de 2008

RELIGIOSIDADE X ESPIRITUALIDADE

RELIGIOSIDADE X ESPIRITUALIDADE


Quem me conhece sabe que nasci e fui criada na religião católica.

A formação foi completa, batismo, colégio de freiras, primeira comunhão, crisma e grupo de jovens.

Mas felizmente, ou infelizmente nasci uma pessoa despida da maioria dos preconceitos que as pessoas têm.

Para começar minha madrinha de crisma era católica fervorosa, até a última notícia que eu tive dela ela havia se tornado espírita cardecista, após a morte de seu filho mais velho (e essa religião que deu o conforto espiritual que ela precisava naquele momento, mudou de cidade após o fato, mudou de religião para poder tocar a vida), meu “padrinho torto”, seu marido, é católico ortodoxo.

Meus pais são católicos, cursilhistas, catequistas, carismáticos.

Meu avô era de religião afro-brasileira (não sei dizer se umbanda ou candomblé), quanto a esse fato lembro de duas coisas: ele tinha aqui em casa, onde hoje é o quarto dos armários, em cima de uma cômoda um busto de tal de Pai Jacó, o qual eu não gostava nem um pouco, mas achava que era alguém da família representado em um busto (criança tem cada idéia). A segunda coisa foi no falecimento do meu avô, eu estava indo para São Paulo – para começar a maior burrada da minha vida- e ele havia sido hospitalizado. Fui ao hospital com as malas, e ele não conseguia falar, eu disse que estaria de volta no domingo, ele balançou a cabeça em sinal negativo e derramou uma lágrima. Até hoje não sei se ele quis dizer que não ia mais vir arrastando o chinelinho do quarto e sentando na cozinha, com cara de criança que espera brigadeiro, quando sentia o cheirinho da minha geléia de morangos na panela ou meus pães de queijo assando; ou que era para eu não ir que era o começo de uma enrascada sem precedentes.

Na história do meu avô o que importa, é que as senhoras católicas (pelo que me contam, pois não tive coragem de vir ao velório, aliás, esse é um fato estranho, muitas pessoas amadas, talvez as mais amadas da minha vida que se foram, por um motivo ou outro, eu não fui ao velório) lideradas por minha mãe, claro, rezaram o terço, o padre deu a benção, mas a última pessoa que levantou a voz numa oração foi uma senhora espírita. Minha mãe e minha tia brincam até hoje que meu avô foi teimoso até a morte e deu um jeito de ir embora do jeito dele.

Eu, apesar de toda a formação que tenho, e me que me digo católica por saber toda a liturgia de cor, a Bíblia, os santos e suas histórias, rezar o terço e outras ladainhas, me encanto com as demais religiões.

Tenho amigos católicos, budistas, espíritas, judeus, de religiões afro-brasileiras e outras, e me encanto com as coisas boas que cada religião apresenta.

Acredito que a maturidade me fez ver que a espiritualidade suplanta a religiosidade.

Tempos atrás, resolvi me confessar, fui falar com um padre amigo meu, contei tudo, ouvi conselhos que me foram muito úteis.

Minha mãe ficou esfuziante, pensando: “agora ela volta”.

Como estava adoentada passei a receber a comunhão em casa, junto com minha tia que tem dificuldades de locomoção. Quando melhorei pedi à ministra que trouxesse uma partícula só, para minha tia que eu estava em plenas condições de freqüentar a missa, e assim o fiz.

Sou divorciada e comecei a namorar.

Minha mãe me avisa que a partir daquele momento eu não podia mais comungar, pois o catecismo prega que não pode. É a lei da minha igreja? Sim. Sendo operadora do Direito tenho que ceder, lei é lei.

Tempos depois encontro outro padre amigo, em circunstâncias nada ortodoxas e que, no meu ver é a melhor forma de exercitar a religiosidade.

Meu pai liga no meu escritório e diz: “Você não vai acreditar, paguei uma cerveja para uma pessoa na padaria”. Adivinhe quem era?

Como assim?Meu pai, que não bebe, não fuma e não joga, mas que nem por isso é santo, como todos nós, teria pagado cerveja pra quem?

Foi para outro padre amigo. Que a última vez que me viu eu devia ter uns 15 anos.

Saí correndo para a tal padaria, ele ainda estava lá, compartilhamos a cerveja, e contei a ele a “proibição” embasada de minha mãe. E ele me respondeu que se eu entrasse na fila dele da comunhão ele nem me conhecia e me daria a comunhão, pois eu estaria sendo mais sincera e pura de coração do que casais que vão à igreja, servem de modelo e no confessionário dizem que dormem um de costas para o outro há décadas.

Deste episódio tirei uma única conclusão: o que vale é Deus no coração e atos verdadeiros.

Dias atrás passou na novela “Duas Caras” a cena que a Andréia Biju, dança na mata, sozinha uma dança do Candomblé. Uma cena linda. Comentei com minha mãe que é uma pena que as religiões afro-brasileiras tenham sido tão deturpadas, pois, se continuassem na sua essência, seriam tão significativas e tão belas quanto as indígenas, as budistas, que pelo menos aparentam não terem perdido sua essência após serem transportadas para outras culturas.

Na realidade estou pisando em terreno arenoso, porque a católica se deturpou, a evangélica também e tantas outras. Tanto que temos que procurar mestres espirituais com muito cuidado e ter discernimento em ouvir o que nos dizem, infelizmente.

Estou numa fase muito espiritualista. Semana passada, brinquei com minha mãe que foi semana de “todos os santos” Santo Ivo, patrono de uma das minhas profissões, a que exerço firmemente agora, Santa Rita de Cássia, para quem tanto clamei e hoje só tenho a agradecer, Corpus Christi e ainda Pentecostes, pois agradeço ao Espírito Santo por muita iluminação dada nesses anos.

Vi numa reportagem que também, na Bahia, foi dia do Santo, que no sincretismo, representa São Jorge, esse para mim é “o cara” que me vestiu com uma armadura, um elmo, um escudo e uma espada e me deu forças para cortar a cabeça de muitos dragões nesses últimos anos.

Dia desses tive um sonho e acordei feliz, cantando Rosas da Ana Carolina. Na mesa do café, disse a meus pais que tinha a impressão de ter pensado a noite toda e que havia acordado cansada.

Quando fui lavar minha xícara, me lembrei do sonho e rapidamente contei para minha mãe, eu estava muito emocionada, chorando e perguntei a ela se o sonho era do bem ou do mal, e ela disse que era do bem. O sonho eu posto depois. Mas era dia da ministra trazer a comunhão para minha tia. A ministra até brincou dizendo que aquele dia era um dia de milagres, pois eu estava em casa no sábado pela manhã e me convidou para a oração, na hora da comunhão ela perguntou se eu iria comungar, já repartindo a única partícula que havia trazido, na certeza do meu sim. Não respondi nem que sim nem que não, apenas disse: hoje eu preciso!E comunguei, sob a intercessão da minha mãe que entendeu que aquela era uma ocasião excepcional, na qual a liturgia em que eu fui criada seria meu único alento.

Estou em repouso ainda e agradeço a oportunidade de poder ter um tempo para escrever.

E só tenho uma coisa a dizer: estou bem com Deus, quando estou meio balançada assisto uma palestra do Pe. Leo, do Gasparetto, do Pe. Fábio de Mello; ouço Aline Barros, Jamile, e naquela hora de stress pratico o tonglen.

Estou cuidando do Deus que há dentro de mim.

Ouvi um dia definirem DEUS assim: Dentro o Eu Superior.

Ontem minha criativa Tia Dita e minha mãe estavam trocando figurinhas sobre a coroação de Nossa Senhora e palestras, e eu pensei que tenho tanto a dizer, tanta experiência de vida e espiritual para passar, gostaria tanto de dividir com outros em palestras tudo que aprendi sobre a força da Espiritualidade. Mas nas minhas comunidades, as que freqüentei não dá, vai chegar um ponto que o que tenho a dizer é conflitante com a doutrina pregada. O que para mim é hipocrisia, mas, o que posso fazer?

Postar é uma boa saída...e tenho certeza que essa foi uma iluminação do Espírito Santo.

E vamos àquela máxima do Evangelho, dita pelo próprio Jesus: “Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça”.

(Gy Camargo)

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