segunda-feira, 12 de maio de 2008

DIA DAS MÃES

DIA DAS MÃES.



Esse texto é uma miscelânea de emoções!

Neste ano nem quis saber de escutar essa frase. Tudo bem que é apenas uma data comercial, coisa e tal, mas me fere um pouco.

No ano passado foi mais tranqüilo, eu estava dando aula na pré – escola naquela semana, e, estar com os anjinhos me faz muito bem.

Neste ano não deu, a advocacia está me puxando para longe dos meus anjinhos, então não tive contato com eles nesta semana.

No ano passado foi legal, ensaiamos as músicas, os teatros, e deu até para esquecer, por alguns momentos, a minha posição de mãe de anjo.

Só tive uma pequena crise de choro no final da festa, mas as colegas estavam lá passando aquela energia positiva.

Nesta semana não sei dizer ao certo o que me deu.

O caso Isabella Nardoni mexeu muito comigo.

Como é que uma mãe, no caso Anna Carolina Jatobá, teve a coragem de surrar e esganar uma garotinha, sendo mãe de dois filhos, sendo que o mais velho tem o mesmo nome do meu: Pietro.

Esse caso mexeu com minhas emoções e saúde.

Lembrei-me de todas as injeções, que ainda me doem quando chove e que tomei para segurar meu bebezinho e não perdê-lo, todas as internações e eu segurando com todas as forças (e só Deus, Pietro e eu sabemos as dores que passei) para que ele continuasse abrigadinho no meu ventre e não nascesse antes do tempo.

Da cara de pena da Adriana da farmácia que me aplicava tais injeções.

A pré-eclampsia traumática.

O parto difícil.

A descoberta que ele tinha síndrome de Patau e não sobreviveria.

A garra dessa criança, que superando as expectativas mais pessimistas sobreviveu por vinte e dois dias.

A minha garra, mesmo pós cesariana, tomando chuva, sol, vento, dormindo onde Deus quisesse, chorando no corredor e não derramando uma lágrima na frente do meu Pequeno Guerreiro.

O dia em que o vi sofrendo demais e disse a ele que se quisesse ficar que lutasse, pois eu o aceitaria e cuidaria com todas as suas deficiências, que seriam muitas, ou se estivesse cansado que descansasse, pois nenhuma criança merecia sofrer daquele jeito.

No mesmo dia ele se foi.

Ontem, assistindo Ana Carolina Oliveira dar seu depoimento no Fantástico revivi tudo isso, mas também revivi as madrugadas, quando eu acordava, pois ele, ainda na minha barriga pressionava meus rins e eu corria pro banheiro.

Daquela hora em diante, sempre por volta das quatro da manhã, eu não dormia mais. Perguntava a ele o que ele queria fazer: ouvir historinhas, ver TV ou ouvir música e a ligação mãe e filho nunca me deixaram errar o que ele queria, pois ficava calminho a cada escolha.

Era uma farra nossas madrugadas: eu ia testando que tipo de música ele iria preferir, e o danadinho curtia Pink, Christina Aguilera, Natiroots, e ficava quietinho ouvindo Shakira, eu achava incrível.

Tinha também o código dos chutes, que significavam que ele não estava confortável naquela posição, detestando certos lugares, barulhos e pessoas.

Nos vinte e dois dias em que ele viveu, apesar de todos os problemas, a minha maior paz era estar ao lado dele e saber o que significava cada expressão.

Quando ele se foi, eu entrei num estado de animação suspensa que durou uns três anos. Era a falta de conformismo, misturada a revolta, a saudade, e tantos outros sentimentos.

Aí é que aparecem “ as malas”. Aquele povinho que te manda reagir, arrumar outro filho logo, e a vontade de responder que se eu cortasse a mão da infeliz criatura totalmente insipiente no que dizia, se ela iria arrumar outra logo e se conformar em uma semana, mês ou ano.

Cada um tem seu tempo de luto, ontem ganhei uma rosa do meu pai e dei uma rosa para minha tia Maria INXS (apelido de casa porque a velhinha não é mole não), que também é mãe de outro anjo que amávamos, Cláudio César, que nos honrou com sua presença por vinte e cinco anos e sua alegria inesgotável.

Abracei INXS, dei a rosa e disse a ela, com lágrimas nos olhos e esse meu jeito de moleca: Inês Maria, feliz “qualquer coisa” pra nós.

Para mim valeu a entrevista da Ana Carolina Oliveira, que disse que há momento, lugar, hora, pessoas certas e oportunidade para extravasar essa dor que nunca passará.

Meu momento é esse, meu choro é valido e legítimo, minha saudade é inenarrável, mas como disse essa nova mãe de anjo, Ana Carolina, a nossa luta para honrarmos nossos filhos é o que nos da FORÇA, GARRA, VONTADE, de viver, lutar e vencer.

Meu beijo no coração de todas as mães, no da minha, que é incrível, e além do beijo, meu carinho todo especial para as mães de anjos e de crianças especiais.

(Gy Camargo)

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