terça-feira, 20 de maio de 2008

JUSTIÇA

JUSTIÇA

Escrevi esse texto em 15 de janeiro de 2008, na minha agenda, numa dessas paradas filosofais entre uma audiência e outra.

Esqueci esse texto até ontem, quando no Fórum encontro com Dr. Carmine Grasiozi (desculpe se errei na grafia de seu sobrenome doutor), com seu bom humor de sempre e ainda na ativa. De tudo que ele nos ensinou sobre Processo Civil, uma frase ficou guardada: “Sempre cheguem ao cartório com humildade, peçam ao cartorário com educação e bom humor e, se tiverem alguma dúvida utilizem a mesma humildade e digam que não sabem fazer determinado procedimento e peçam ajuda. A arrogância só atrapalha e gera antipatia.”.

Graças a Deus esse é o meu jeito mesmo então ficou fácil aplicar quando eu não sabia nem protocolar.

Conversamos, caminhando para o mesmo cartório e me ocorreu de comentar esse texto com ele.

Ontem também foi dia de Santo Ivo, padroeiro dos advogados.

Coincidência boa, pois fazia anos que não via esse meu professor.

Ele estava acompanhado de um ex-aluno de vinte anos atrás, e eu contei que era da turma de 1996.

Então, ele sempre divertido disse que gostaria muito de uma homenagem de seus ex-alunos: a módica quantia de mil reais, de cada ex-aluno, a título de homenagem.

Ri muito e me comprometi a passar o recado para a turma de 1996. Imagine a soma, mais de vinte anos de ensino jurídico para turmas de cem alunos em média, no período diurno e noturno. (eu me contentaria com cem reais de cada aluno que passou por minhas mãos na pré-escola, brincadeira meninos, vão pagar a faculdade, os livros, comprar computador, etc.).

Disse a ele que dava para ele se aposentar, tirar férias e viajar pelo mundo.

Quando estávamos rindo e pegando a senha ele, com seu humor e humildade impagáveis me pede: “filha, por favor, olhe esse processo para mim, nesse treco porque não me dou muito bem com ele”. Era o computador de andamento de processos.

Ri mais ainda, fiz o que me foi pedido, e lembrei a ele que meu primeiro computador foi comprado com o intuito de fazer minha Monografia de final de curso. Esta, modestamente ficou ótima, depois de várias madrugadas insones.

Terminei meu trabalho, me despedi e voltei para casa para passar aqui esse texto, mas só deu certo hoje. Pois tive que colocar uns adendos:

JUSTIÇA

No ano passado completaram-se doze anos do meu compromisso com a justiça.

Ao todo se totalizam dezessete anos (e, segundo o Dr. Cármine, que comentou meu texto, não são só dezessete. São cinco de faculdade, doze de formatura e continuamos estudando até hoje. Sábio mestre, sempre com razão).

A prática da mesma me levou a questioná-la.

Comecei a perceber que as pessoas que litigam judicialmente levam ao Estado apenas o elemento volitivo, que normalmente, na área Cível e principalmente na área de Família são principalmente seus egos e questões pessoais mal resolvidas.

As partes tendem a utilizar a justiça, não para a solução de seus conflitos práticos e materiais, a usam para a satisfação de seus egos ao serem considerados vencedores num litígio.

Venceu e conseguiu o que com isso? Dinheiro? Respeito? Consecução de um projeto? Vingança?

Não se conquista judicialmente esses itens. Conquista-se com atitudes efetivas.

Sei o quanto é prazeroso proferir o famoso “por que no te callas” a cada vitória judicial.

Porém, o melhor “cala-te” se dá quando não nos importamos e até esquecemos as motivações que nos levam a demanda.

Esquecer é a maior vitória nessas demandas. Aliás, esquecer realmente é a maior vitória em qualquer demanda.

Quando não nos importamos mais significa que estamos cientes das nossas potencialidades e as executamos sem estarmos atados a fatos e atos que não fazem mais parte da nossa vida, nem revivemos incessantemente momentos desagradáveis.

A partir desse momento somos realmente livres e vitoriosos.

Aprendemos e apreendemos o melhor que uma experiência desagradável nos causou e seguimos em frente amadurecidos.

Quem é maduro tende sempre a conciliação. Quem é maduro media seus próprios interesses. Fala, cala e expõe seu ponto de vista apenas com um olhar, sem discursos e exacerbações excessivas.

Que os olhos cegos da justiça sejam sensíveis e os operadores do Direito sejam sábios ao economizar os órgãos jurisdicionais, utilizando-se dos mesmos apenas em situações de extrema complexidade ou de concretização de atos indispensáveis.

O restante se resolve desenvolvendo a maturidade das partes para que elas, entre si, componham a melhor solução para seus conflitos.

Como operadora do Direito sei que isso é utópico e que fomos treinados para a batalha judicial árdua. E assim será durante muito tempo.

Como ser humano, em constante evolução, discordo desta encenação cujo único texto é escrito por desejos individuais sob o amparo legal.

A maior Justiça quem faz é o tempo que, inevitavelmente mostra quem é o detentor da razão.

(Gy Camargo)

Nenhum comentário: