domingo, 15 de junho de 2008

OS BENEFÍCIOS DA MINHA GRIPE.

Duas semanas de gripe iô-iô, ela veio, fingiu que foi embora e voltou com força total.
Neste meio tempo trabalhei normalmente, mas está chegando aquela época do ano em que Fórum começa a fazer "operação tartaruga" porque está perto do recesso.
Se o TJ (ainda não verifiquei) não der o recesso, tudo caminha a passos lentos do mesmo jeito em julho.
Na quinta-feira eu estava sem voz e uma cliente ligou no meu celular. Pedi que ligassem para eles (na realidade os clientes são um casal), comunicando o andamento de seu processo e minha impossibilidade de falar.
Sexta-feira estava péssima.
No sábado, meu pai que, "recebe a Dita Faxineira" até hoje, aos sábados, já começou com a faxina.
Obrigatoriamente, não podendo cumprir minha parte, que são meu quartinho e o quarto dos armários, fui para fora da casa e sentei, com meu celular e fiquei ouvindo rádio ( Também para "desentocar" e respirar um arzinho mais puro.)
Estava muito brava, tinha quadrilha para dançar, a roupinha pronta, só pensando nas palhaçadas que as "meninas da terceira idade" iam fazer e eu ia ficar de fora.
Sem contar que tinha marcado uma "baladinha".
Lá sentadinha, com cara de criança que teve o doce roubado, pára um carro e o motorista aponta para mim.
Era o meu cliente, que sabendo que eu estava doente veio trazer alguns documentos e um saco de balas de mel (Tem cliente que é uma benção).
Estou chupando as balas de mel até agora.
Ele não quis entrar e disse, no alto de sua septuagenária sabedoria, que era bom para mim que ficássemos conversando sob o sol e ar puro.
Falamos do processo. Este é o tipo de cliente que vira amigo.
Não sei como começou o assunto, mas ele, sendo negro, pegou os resquícios do final da escravidão no Brasil, me contou coisas interessantíssimas, de quem tem conhecimento de causa e não é "ativista xiita".
Confesso que já fui vítima de preconceito e já "rodei muito a baiana", quando adolescente e uma vez depois de adulta e, onde estavam os "ativistas xiitas"?
Quando adolescente chamava pai, polícia, escrevia artigos em jornal e quando adulta apelei para a OAB, mas depois tinha tantas preocupações mais urgentes que até esqueci o assunto. Não sem antes dar "aquele show", como já era adulta só dei um "cala boca e pensa antes no que vai dizer" para a dona da loja e não toquei o processo.
O papo durou horas. E ele, no auge dos seus setenta anos, tem uma idéia semelhante a minha sobre movimentos negros ( Vi que não estou no caminho errado, pois as coisas que ele me contou, sobre sua infância até os dias de hoje, atestam o que ele disse. Não posso escrever muito pois envolve a parte profissional).
Mesmo assim, ele confirmou o que constato. Segundo ele, na venda de escravos, casais eram separados e vendidos como peças a seus donos e estes exigiam que uma tribo procriasse com outra. E, para ele, daí vem a desunião dos negros. A divisão entre a "csa grande e a senzala" também contribuiu. Um tem um poquinho de ascensão social, profissional ou pessoal e aparecem vinte, que não tiveram a mesma "sorte" ou empenho, apesar de todos os empecilhos, para criticar, falar mal e até boicotar ( mas esse assunto fica para nosso projeto).
Sem contar a relação homem e mulher, que já é complicada, mas (embora precise pesquisar) percebo que os negros tem uma tendência a serem os guerreiros: eu mando, eu faço, te subjugo, e como já disse num texto, tenho filhos com quantas quizer. Mesmo casados (Estou pronta para as pedras, mas antes de atirarem me comprovem que estou completamente errada na minha observação. Mas já faço um "mea culpa", pois conheço raríssimas excessões). Não sou exemplo, mas na minha adolescência pelo menos, foquei no estudo, reprimi a sexualidade (verdade seja dita) e adulta primei pela prevenção e hoje por problemas alheios a minha vontade, tenho dificuldade em engravidar mas não tenho "grilos", porque vi uma turminha que ajudei a criar se tornando pessoas "do bem" e ainda penso em adoção arco-íris, mas num futuro um pouco distante. Tudo vai depender do presente.
Voltando ao meu cliente, de imediato o convoquei para um projeto nas férias forenses de final de ano. Creio que sairá algo bom. Ele adorou a idéia.
Entramos no assunto religiosidade http://livreepensadora.blogspot.com/2008/05/religiosidade-x-espiritualidade.html, ele sendo neto de escravos, sabe tudo sobre as religiões afro-brasileiras, mesmo com pouco estudo, me deu uma aula sobre o sincretismo religioso, como já disse no post deste link acima, adimiro as pessoas que sabem o que estão dizendo sobre o assunto e que são adeptos dela vinda de suas raízes mais puras. Adorei.
Falamos sobre muitas coisas, bençãos recebidas, orações (Meu lado espiritual está muito latente ultimamente) e expliquei a ele minha formação religiosa.
Ele me falou de um tal Inácio, guia espiritual. Pensei, pronto lá vem bomba, pois como abrevio o meu nome, o Inácio passa desapercebido e ainda tem o Camargo, e como todo mundo nessa região é meio parente, se eu for "fuçar", lá vem o parentesco com João de Camargo. Ainda tem a história de que todo mundo me diz que tenho "certos dons", sei disso, já tive experiências, mas vamos deixar o assunto pra lá?
E, como a piada é recente, contei a ele da miniatura de Santo Antônio no bolo.
Ele me disse que não sou mulher "de casar", fiz uma cara de ofendida, rindo obviamente, e ele explicou que tinha dito que eu não era mulher "de casar" e não "para casar".
Explicou ainda que eu sou muito oito ou oitenta e uma vez que virei Amélia uma vez, e hoje digo tudo na hora e não deixo para depois, dificilmente aceitaria meio termo. E que homem para mm tem que ser maduro em todos os sentidos e ainda acompanhar minha jovialidade e saber lidar com características que tenho inerentes a toda mulher.
Estou refletindo...
Me disse ainda algo que eu mesma penso a meu respeito: "Doutora, a senhora trabalhando tem cinquenta anos, mas fora do trabalho tem dezenove ou vinte anos."
Perguntei se ele me achava imatura, ele disse que não, ao contrário, só tenho uma alma juvenil e que ele também, mesmo com toda a experiência de vida, tem a alma de quarenta anos.
Que papo bom, que lições.
Essa gripe tem me rendido bons frutos.
Agradeço ao meu cliente pelo papo e pelas balas de mel, que estou chupando até agora. Não posto seu nome por sigilo profissional, mas que vem um projeto bonito pela frente tenho certeza!
(Gy Camargo)
Quase esqueci de postar a que música o fato me remeteu:
Tradução resumida que encontrei:
Se apóie em mim quando você não estiver forte Eu vou ser seu amigo e vou te ajudar a vencer Pra isso não ser longo, eu vou precisar de alguém pra apoiar-me. Você pode me ligar irmão, e você precisam de um amigo. Nós todos precisamos de alguém pra se apoiar Se você puder ter um problema você vai entender Nós todos precisamos de alguém pra nos apoiar Se apóie em mim quando você não estiver forte Eu vou ser seu amigo e vou te ajudar a vencer Pra isso não ser longo, eu vou precisar de alguém pra apoiar-me.
E complementando:
A realidade nos EUA, no Brasil e em tantos países. ( E eu que me apaixonei por essa música fazendo passinhos no Recreativo, rs.)
Mas, antes me apaixonei pelo filme, uma versão black de : "Ao mestre com carinho" Com Sidney Poitier.
Depois "o povo" não sabe porquê a gente vira professora, advogada...rs

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